domingo, 15 de novembro de 2009

A história do Diário de Pernambuco

Por José Augusto Gonçalves

A historia a seguir é uma experiência, ou uma primeira amostra para a composição da nova base de dados da Coordenadoria de Periódicos. Além da pagina com informações técnicas, a proposta é a criação de uma nova página com informações de cunho histórico sobre as publicações, incluindo imagens das mesmas, e, também, informações sobre instituições que disponibilizam suas coleções para consulta.

O primeiro esboço foi feito com o Diário de Pernambuco, por ser este o periódico mais antigo ainda em circulação no Brasil e na América latina. Seria também uma homenagem? Ou ainda um protesto pelo não cumprimento (desde a década de 80) da Lei do Depósito Legal?

A seguir, a historia do Diário de Pernambuco

Fundado por Antonio José de Miranda Falcão, o Diário de Pernambuco iniciou sua circulação em 7 de novembro de 1825 no Recife (PE) como uma pequena folha matutina, medindo 24,5 por 19 cm. De acordo com o editorial de apresentação, declarava-se um simples “diário de anúncios”, com avisos de compra e venda de imóveis, objetos, leilões, aluguéis, ofertas e fugas e apreensões de escravos, além de informar sobre a movimentação portuária. Cada exemplar era vendido ao preço de 40 réis.


Crédito da imagem: http://ressurgirdahistoria.wordpress.com/

Em fevereiro de 1835, José de Miranda vende o jornal para o comendador Manoel Figueiroa de Faria, que o transforma em uma espécie de órgão oficial do governo provinciano, publicando atos oficiais desta época até 1911. Neste período, poucas interrupções ocorreram na periodicidade do jornal – a primeira se deu entre os dias 25 e 31 de março de 1901.

Ainda em 1901, após 65 anos à frente do jornal, a família de Manoel Figueiroa de Faria (que falecera em agosto de 1896) vende o jornal para Francisco de Assis Rosa e Silva, que, junto com o jornalista (e futuro deputado) Artur Orlando, inaugura uma nova fase do matutino. Via-se então uma nova apresentação gráfica, embora o jornal continuasse com quatro páginas.

Em 1908, aos 83 anos de existência, o Diário de Pernambuco passa a trazer o slogan “Jornal mais antigo em circulação na America Latina”. Em 1911, na esteira de distúrbios políticos ocorridos no Recife, o jornal é invadido e sua sede depredada, ficando sem circular durante 14 dias (de 10 a 24 de novembro). A circulação é retomada em 25 de novembro, para em seguida ser novamente interrompida, tendo o matutino reaparecido em janeiro do ano seguinte sob a direção do ex-chefe da policia local, Elpidio de Figueiredo. Nesta nova fase, o periódico assume uma posição contrária ao governo, que dura pouco tempo, sendo sua sede invadida e “empastelada” por governistas. Desta vez, fica fechado por 2 anos.

Reaparecendo em 1913, como propriedade do coronel Carlos Benigno Pereira de Lira – que contava com seu filho, Carlos Lira Filho, como redator chefe – o diário é direcionado à “imparcialidade para encarar os fatos que se desenrolam em nosso meio, quer em relação a politica geral do país, quer na do estado”. Dois anos após o seu reaparecimento, em 1915, a sede do jornal é novamente depredada por populares (indignados com o ato do Congresso Nacional que deu posse da província a Rosa e Silva, antigo proprietário do jornal, mesmo este tendo sido derrotado por meio de eleições majoritárias por José Bezerra).


Crédito da imagem: http://www.fundaj.gov.br/

Após uma série de negociações, em junho de 1931, Assis Chateaubriand adquire o jornal de Carlos Lira Filho, integrando-o aos Diários Associados. Três anos depois, em 1944, Lira Filho entra com pedido de falencia da empresa, alegando que o comprador não cumprira os compromissos assumidos na realização do negócio. Após troca de acusações, publicadas nos jornais do Recife e nos Associados da época, o processo de falência da empresa acabou sendo julgado como improcedente pela justiça, que decidiu pela manutenção do jornal nos Diários Associados. A partir de então, o jornal passa por grandes alterações, tendo aumentados seu formato (standard), número de páginas e material informativo. Neste período, passa também a adotar nova ortografia, então em vigor.

Ainda em 1931, em outubro, eclode na cidade o levante do 21º batalhão de caçadores, o que levou à prisão de gráficos, jornalistas e dois diretores do jornal – José dos Anjos e Salvador Nigro – acusados de participação e colaboração com a manifestação. O prédio do Diário de Pernambuco é novamente invadido, mas desta vez pela policia, que revistou todas as suas dependências e, em seguida, fecha o jornal. Dias depois, as prisões e a suspensão do jornal são revogadas por não haver indícios que comprovasse as acusações.

A sede do jornal conta com mais uma invasão na noite de 13 de setembro de 1932, por dois policiais armados que ameaçavam agredir defensores do ministro José Américo, considerado “inimigo de Pernambuco”. O episódio acabou gerando um protesto veemente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que conseguiu quebrar a censura do governo estadual aos jornais pernambucanos. Liberto da censura, o Diário de Pernambuco toma novo impulso, com a criação de novas seções e a ampliação de serviços noticiosos, recebendo despachos de Chicago Daily News, United Press, Reuters, International News Service e British News Service. Mesmo assim, a censura se fez presente mais uma vez no periódico (e em no restante dos jornais do Recife) em 10 de agosto de 1936, quando a imprensa foi notificada pelo então Secretário de Segurança Pública do Estado, capitão Frederico Mindelo, que “a partir daquele momento, caberia as próprias empresas a responsabilidade pelo cumprimento das proibições, respondendo os diretores pelas desobediências às recomendações do governo estadual”.

Durante II Guerra Mundial, o jornal passou a publicar semanalmente um suplemento com notícias do conflito. Com o fim da guerra em 1945, seguindo a linha dos demais Diários Associados, o Diário de Pernambuco move uma campanha contra a ditadura de Getúlio Vargas. O ponto culminante da campanha acontece em 3 de março daquele ano, quando são assassinados o estudante Demócrito de Souza Filho (na sacada do jornal) e o carvoeiro Manuel Elias, ambos mortos por disparos da polícia. O fato se dá durante uma manifestação popular em frente à sede do jornal, que foi novamente invadido e empastelado pela polícia. O redator chefe, Aníbal Fernandes, e outros jornalistas da equipe são presos. O diário fica 40 dias sem circular, retornando apenas por força de mandado de segurança concedido pelo juiz Luiz Marinho. Pela luta empreendida, Assis Chateaubriand alcunha o jornal de uma “praça forte da liberdade”.

No decorrer de sua história, o Diário de Pernambuco foi vítima de censura por diversas ocasiões. Foi empastelado, depredado, teve exemplares rasgados e incendiados e deixou de circular por alguns dias nos anos de 1911, 1912, 1931 e 1945.

Colaboradores principais: Gilberto Amado (entre 1907 e 1908, quando publicou crônica diária na coluna “Golpes de vista”, sob o pseudônimo de Áureo), Assis Chateaubriand, Alceu Amoroso Lima (sob o pseudônimo de Tristão de Athayde), Otavio Tarquino de Souza, José Lins do Rego, Menotti del Picchia, Murilo Mendes , Augusto Frederico Schmidt, Gilberto Freyre , Austregésilo de Athayde, Álvaro Lins, Lindolfo Collor, Afrânio Peixoto, Medeiros e Albuquerque, Aníbal Fernandes, Mauro Mota, Barbosa Lima Sobrinho, Raquel de Queirós, entre muitos outros.

As sedes: A primeira sede do jornal ficava na Rua Direita, numero 267, no bairro de São José, na casa onde residia o seu fundador. Três anos depois, em 1828, instalou-se na Rua das Flores (hoje Matias de Albuquerque). Em 1831, nova mudança, para a Rua Corredor do Bispo (hoje da Soledade), numero 498. Depois para a Rua do Sol, na casa D1; para o pátio da Matriz de Santo Antonio; Rua das Cruzes; Rua Duque de Caxias e, em 1903, o jornal passa a ocupar o seu endereço mais famoso, na Praça da Independência, local que ficou conhecido como a “Pracinha do Diario”, onde permaneceu por mais de um século. O jornal transferiu-se em julho de 2004 para um novo prédio (que também funciona como sede do grupo Associados no Recife), na Rua do Veiga, número 600, no bairro Santo Amaro. O prédio na Pracinha do Diário foi adquirido pelo governo do estado, onde agora funcionam o memorial do Diário de Pernambuco e o arquivo público estadual Jordão Emerenciano.



Onde consultar: A Fundação Joaquim Nabuco possui toda a coleção disponível em microfilme. A Biblioteca Nacional tem a coleção original, em papel, e em microfilme, num período compreendido entre 1825 e 1986, com algumas falhas.

Um comentário:

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